quarta-feira, abril 04, 2007

Entãão, tenho pensado em pedir demissão do meu emprego público. Falei com a chefe do departamento há algum tempo, e inicialmente pedi para meu contrato ser mudado para outro de menos horas de dedicação por semana. Não deu certo, e nesta semana ela me chamou pedindo pra ficar, e me seduzindo com um estágio nesta universidade, com a possibilidade até de subsídio pelo governo alemão. Comentei o assunto com uma residente hoje, e ela também protestou peremptoriamente contra a idéia.
Por mais que essas manifestações afaguem o ego e sejam gostosas de ouvir, sei perfeitamente que ninguém é insubstituível - eu certamente não sou.
Acontece que o nosso hospital universitário atravessa uma crise sem precedentes; se a crise fosse recente, ou se houvesse uma perspectiva de solução ainda que a médio prazo, eu penso que não abandonaria o barco. Mas não é o que ocorre; toda a estrutura (humana) da instituição está comprometida, é anacrônica e completamente emperrada. Insolúvel, eu diria. E é ela que põe a perder toda a dinheirama que o hospital capta, numa espiral de incompetência e descaso.
Acho que já fiz a minha parte, matando baratas em consultórios e levando meu material cirúrgico pessoal para operar lá. Não tenho mais paciência.
Mas não é uma decisão fácil de tomar, dá um frio na barriga pensar em mudar uma rotina de 18 anos. Sem falar na porta que tenho hoje aberta para a reciclagem profissional.
Não vou sentir falta deles me chamando de "professor" e "senhor". Nunca me senti muito à vontade com isso. Lembro-me da primeira vez em que não fui convidado para um churrasco dos residentes. Eu já tinha acabado a minha residência, mas ainda não era contratado pela instituição: tinha bolsa de preceptoria. Fiquei magoadíssimo quando soube que já tinha ocorrido o churrasco, e me pus a pensar sobre o que eu teria feito de errado para ser excluído do grupo. Sabem o que foi? Nada. Apenas o "gap" entre nós tinha aumentado, e eles já me viam como alguém "do outro lado", alguém que organiza suas escalas de plantão e distribui tarefas. Aquilo me caiu como um raio, não me esqueço até hoje.

Nenhum comentário: