quinta-feira, agosto 03, 2006

Tenho um monte de primo - mais de trinta. Ter uma família grande sempre me pareceu natural, e quando era pequeno achava que todas as famílias partilhavam desta bênção. Porque é uma bênção mesmo, e que se estende até agora, quando estamos entrando na meia-idade (meus primos, ao menos, estão - sou um dos mais novos).
Pois estou chegando de uma reunião na casa de um deles. Tem uma família adorável, aliás; sua mulher, que considero como uma prima de sangue, e seus filhos também são agradabilíssimos, e o resultado foi que tive uma noite bem legal, com mais alguns primos de SP também.
Cheguei mancando, porque minha perna está bem inchada. Perguntaram-me qual o motivo, e eu acabei contando o que fiz. Entendam-me: somos uma família bem conservadora, e eram todos um tanto mais velhos do que eu lá hoje. Planejava falar que machuquei a perna - o que não chega a ser mentira. Mas pensei: logo vão ver mesmo, a não ser que nunca mais use bermuda na frente deles. O resultado foi uma conversa amigável, mais aberta até do que supunha (mas não muito) sobre o assunto. Estão todos com filhos com adolescentes/adultos jovens, que os pressionam para que deixem que façam tatuagens. Imagino que eles acharam que eu defenderia o "direito" de seus filhos com unhas e dentes, mas absolutamente não é o que acho. Pensei seriamente por bem mais de um ano antes de fazer a minha, cheguei a marcar uma entrevista no estúdio no ano passado, e então marcar a data, e desisti em cima da hora, com agulhas e tinta preparados. Conheço tudo quanto é tatuador famoso do mundo inteiro pela internet (já escrevi até pra gente no Japão), sei sobre tintas e pigmentos, hepatite C e o escambau.
E o que acho hoje? Não sou abertamente a favor. Acho que mesmo sendo profissional liberal posso encontrar obstáculos profissionais no futuro. Também hoje olho para as gerações mais velhas com mais carinho, e não gostaria de chocá-los. Penso até que a decisão final de fazê-la veio carregada de um pouquinho de melancolia. Mas assim é toda a vida, não é mesmo? - um pouco tingida de melancolia. De alguma maneira isso torna até mais fácil aceitar a tatuagem, com suas pequenas imperfeições e conseqüências.
E agora por favor me dêem licença, que preciso por a perna pra cima. Está doendo um bocado.

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