sábado, dezembro 23, 2006

Morro de medo de ter sono fora de casa, porque sofro um bocado. Dá-me uma agonia danada ficar sentindo sono em festas, casamentos ou wherever e ter que ficar esperando a carona/hora da valsa/de cortar o bolo. Vou contar um segredo: um dos principais motivos da minha mudança de profissão de anestesiologia para oftalmologia foi a experiência de ficar acordado durante a madrugada, inteiramente responsável pela vida de alguém que estava sendo operado, e sentir o sono creeping in e pesando sobre minhas pálpebras. Lembro-me especificamente de uma noite em que eu anestesiava um homem que havia tomado um tiro na barriga, e meu supervisor foi dormir. Os residentes da cirurgia ficavam lá cavocando a barriga do pobre e eu me equilibrava sentado numa cadeira - dessas de hospital público, vocês podem imaginar como é - sem ter onde encostar, e até com dor no peito de tanto sono. O sujeito havia perdido um bocado de sangue, e os cirurgiões estavam mexendo em órgãos delicados, o que me dava uma sensação de alarme. Pois ela se misturava a momentos de apagamento instantâneo, que eram seguidos por outros de culpa e um certo desespero porque eu imaginava que uma hora qualquer eu daria uma cochilada um pouco mais longa e deixaria o homem morrer.

PS: isto aqui está uma beleza, o blog está quase comunitário. O post do dia 21 rendeu comments da Fernanda, Bia e Aline sobre o Burger King em diferentes lugares do mundo, leiam.

Nenhum comentário: