sexta-feira, junho 01, 2007


Temos uma atração atávica por algumas coisas - que sempre nos parecerão adoráveis, como o glorioso crème brûlée, aqui retratado bucolicamente no meio das florzinhas de lavanda. Vcs já comeu esta sobremesa? Quem não comeu não tenha dúvida de que irá amá-la quando tiver a oportunidade de provar. Não tem como errar. Tem tudo o que é bom e nos parece familiar. Ao contrário do que comi meia hora antes, um pato com não-sei-quê. Carne de caça, bleargh. Mal-passada pra não ficar intragavelmente dura, e com um monte de pelanca de gordura pra não ficar ressecada. Com um fundo amargo.
Sabem como os ingleses chamam a isto? Um "acquired taste", ou algo que requer um aprendizado para que se aprenda a gostar. Como o sushi, que dá uma aflição da primeira vez que o pomos na boca, quando procuramos por um traço de sabor familiar, algo que possamos usar como referência. E nada nos acode - temos somente na boca a textura fria do peixe, o "wasabi" ardendo no nariz, e o "nori" que gruda no céu da boca envolvendo o arroz frio e recendendo a maresia.
Alguém pode argumentar que se a finalidade da coisa é o prazer dos sentidos - pois que estas comidas tão elaboradas não servem só pra matar a fome, é claro - não deveria haver este período de provação, que pode vir a ser um desafio quase intragável. Acontece que sempre acaba valendo a pena, pois se alguém já trilhou bravamente o caminho antes - como toda a civilização japonesa, e por séculos no caso do sushi, é por que deve haver algo bom no final.
Exceto no caso do pato, I should say.

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