terça-feira, outubro 09, 2007

O apresentador de TV Luciano Huck teve seu Rolex roubado quando saía de uma padaria, e escreveu um texto para a Folha de São Paulo no dia 3 choramingando. Desfilou o "tenho vergonha de ser paulistano agora" de praxe, e cometeu a parvoíce, a estultícia de tentar explicar porque não merecia ser roubado. Sabem como? Dizendo que paga todos os seus impostos!! E que até tem uma ONG (i.e., é "amigo dos pobres"). Perceu uma chance de calar a boca, porque deu combustível para a escória que pratica os roubos, e para a gentalha que os defende, que repete aquela ladainha de que não são maus, mas a pobreza os fez agir assim.
Ele não poderia ser roubado porque isso é errado, raios!, e não porque é bom moço. Se for assim, o que merece quem sonega os impostos? Levar um tiro do assaltante? E quem não dá esmola no sinal, ou não colabora com uma ONG? Um seqüestro relâmpago?
Um rapper chamado Ferréz escreveu uma réplica no mesmo jornal, com indisfárçável alegria pelo ocorrido, alardeando nas entrelinhas que justiça foi feita. Descreveu o provável dia-a-dia do assaltante desde o momento em que teria acordado, sua interação com a família desestruturada, etc, até sair para a "missão" - com aquele estilo sub-Nelson Rodrigues que já encantou os intelectuais pelo lirismo "cru", e que agora só é rançoso mesmo. Chegou ao cúmulo de dizer que no final do dia "todos saíram ganhando". Não percebe, o trouxa, que essa raiva espumante que nutre pelos que têm mais (dinheiro), e o desespero em que acaba caindo - que o leva a proclamar que os ricos merecem ser roubados mesmo - aumenta o problema exponencialmente e o fosso entre os dois lados.
Não consegue ver que essa retórica frouxa de que apenas o "sistema" e a indiferença da sociedade é que corrompem os antes maravilhosos indivíduos que foram para o crime ficou perdida em algum cursinho ordinário de sociologia, que ainda não conseguiu sair de 1970.
O grande filme "Tropa de Elite" começa, infelizmente, com uma afirmação ingênua desse tipo estampada na tela, de um sociólogo norte-americano que disse que as ações das pessoas não são resultado de seu caráter, mas das condições em que vivem - ou algo assim.
Como contraponto disso, dêem uma olhada na biografia do pré-reformador boêmio João Huss, um exemplo irretocável e inatacável de virtude na adversidade. Este site tem um texto bacana sobre ele.
Se este fosse um mundo sério, um exemplo como a vida deste homem calaria a boca de muita gente que faz da miséria de nosso país uma indústria e um meio de vida, anunciando que "não há culpados" entre os excluídos sociais.

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