terça-feira, janeiro 13, 2009

Há poucos dias o palácio de St. James, em Londres, pediu desculpas publicamente pelos termos usados pelo príncipe Harry (outra vez...) num vídeo doméstico (que acabou vazando na internê), em que ele chama um amigo de origem paquistanesa de "paki", e um outro fulano com uma cara meio escurinha e narigão de "raghead" - um termo pejorativo para o turbante de alguns povos orientais. Parece que o tal amigo is cool with the nickname, but the damage is done.
No último domingo comentávamos, na Escola Dominical, sobre a história da Naamã, um general que sofria de lepra, cuja história é narrada no livro de Reis. O professor perguntou: "Qual era o problema de Naamã mesmo?" - ao que a audiência toda respondeu, incontinenti: "LEEEPRAAA!"
Vocês sabem que todo mundo hoje, do Ministério da Saúde às ONGs, recomenda que se chame a doença de hanseníase, não é? Pois fiquei pensando de onde teria surgido esse anacronismo instantâneo. Daí me lembrei que também sabemos conjugar os verbos na segunda pessoa, sem violar a uniformidade de tratamento, como ninguém. Infelizmente, outro anacronismo. Sabemos o que significa hissopo, e serôdia. Sabem de onde vem tudo isto? Hein? Hein? Da Bíblia que usamos, oras - a tradução "Revista e Atualizada"de João Ferreira de Almeida, que foi um linguista e filólogo incomparável, e que lemos todo dia.
Lembrei-me ainda de um querido tio, já falecido há muitos anos, que se referia aos negros como "os pretos". Era um homem bondosíssimo, de coração amável, de modo que estranhei quando o ouvi usar o termo pela primeira vez - termo um tanto pejorativo em nossos dias. Daí me lembrei que ele frequentou a escola a partir do final da década de 10 (sim, o homem era velhíssimo), e era assim que se dava nome aos negros naquela época, sem qualquer ranço depreciativo.
Ou seja: como sempre, a hipocrisia humana nos condena à ciranda das palavras. O que é norma (culta) hoje logo passa a ser usado com desdém, e a palavra passa a ser inaproveitável. Como se o problema estivesse nelas, as palavras.

Um comentário:

Patricia Scarpin disse...

Você tá com tudo hoje, hein?