quinta-feira, setembro 21, 2006

Ontem fiquei sabendo que deixei mais uma oportunidade de fazer o certo slip by nesta minha vida que é cheia desses acontecimentos.
Havia uma certa enfermeira do centro cirúrgico do hospital da Unicamp com quem sempre tive um bom relacionamento profissional. Era um tanto mais nova do que eu; sempre foi muito competente, solícita e sorridente. Depois de alguns anos de convivência, houve um episódio em que um de meus residentes teve um problema operacional qualquer e não estava conseguindo resolver. Fui tentar intervir (se bem me lembro, já fui pisando em ovos, porque ela não estava muito boa de conversa) e levei uns desaforos gratuitos. Não levei a coisa adiante, mas disse a ela que se limitasse a resolver o problema se pudesse, e deixasse pra brigar com outra pessoa - ou algo assim.
Acontece que nos estranhamos um pouco desde então - ela não me disse mais bom-dia, e eu bestamente passei a fazer questão de fechar a cara também quando passava por ela. Nunca mais nos cumprimentamos.
Pois encurtando a conversa, ontem entrei na sala do banco de olhos onde se guardam córneas humanas para doação. Havia vários vidrinhos em cima da bancada, como sempre, com olhos imersos em meio de conservação. A nossa enfermeira falou, meio casualmente: "Os olhos da Fulana estão aí em cima da mesa". Quase caí sentado. Ela havia se suicidado na segunda-feira, injetando na veia uma mistura de anestésico com uma droga que causa parada cardíaca.
Agora não é mais hora de reparar nada, só de tentar aprender algo deste episódio tão triste.
Sabemos agora que ela lutou por anos contra uma depressão feroz, que pode muito bem ter causado suas alterações de humor. E eu perdi durante esses anos todos, com meus habituais modos de trator, mais uma chance de por em prática o que nos diz a Bíblia: ser sal da terra e luz do mundo. O que é que me custa dar um "Oi"?

Nenhum comentário: